Relato de ex-aluno após 30 anos de formado:

Entrar e sair da EFEI no final dos anos oitenta e começo dos anos noventa

A missão: ralar de estudar principalmente matemática e física, passar em um vestibular concorrido e sem fraude. Eram 210 vagas, 100 Elétrica, 100 mecânica, e 10 para latinos.
Fiz o vestibular, fui bem. O resultado demorava uma mês. Fui pescar, viajar para Ubatuba, namorar.
Voltei. Na época o resultado do vestibular era publicado na janela do prédio central da EFEI e os nomes eram falados na rádio universitária. Eram assim que eu iria saber o resultado…

Eu, nascido em Itajubá, tinha já muitos familiares formados na EFEI, inclusive dois irmãos, um já formado em 1982 e outro no sexto período. Aquele resultado era o meu ponto de inflexão ou não, a minha chance quase que única.

No dia do resultado 27.01.1988, acordei cedo. Ansioso, sai em direção ao prédio central da EFEI, no caminho três amigos me chamaram, estavam com a Rádio universitária ligada. O radialista começou a falar os nomes por ordem alfabética, chegou no N, o radialista falou meu nome. Felicidade…

Os meus amigos já me seguraram, passaram a tesoura no meu cabelo, me colocaram na caçamba de uma Chevy e fomos para a porta do prédio central da EFEI. Lá me amarraram em uma corda com outros candidatos que passaram no vestibular também, jogaram óleo queimado, pó de serragem e garrafões de cachaça aparecerem do nada, eu bebi (jovens não recomendo repetirem isto em casa…).

Descemos até a praça amarrados naquela corda e isto foi a última coisa que eu me lembro. Me acharam caído na porta do supermercado alvorada, me levaram para a Santa Casa, foi glicose na veia. Acordei tomando sopa em casa e minha mãe dando graças a Deus deu estar bem e seguro em casa.

Porém, aquilo não bastou, a alegria era muita, eu tinha que comemorar, meus amigos me pegaram em casa, fomos para a praça de novo. Não teve bebida alcóolica desta vez ( que bom), mas outros amigos me pegaram de novo, rasparam minhas coxas escrevendo com a lâmina de barbear EF na perna direita e EI na perna esquerda. E ai me entupiram a bermuda amarela que eu usava com barro do canteiro da praça. Eu, no desespero de tirar o barro que era tanto que eu nem conseguia andar direito, puxei a cueca que eu usava, passei a cueca esticada por um dos pés o que liberou o barro no chão, enquanto meus amigo riam.
Então, tirei a cueca pelo outro pé. Com a cueca na mão, girei e soltei. Aquela cueca parou no alto da árvore da praça, em frente a Casa Reny e Sorveteria Pingo de Ouro. Isso foi o começo da história.

A escola começou, foram cinco anos e meio de ralação. Ali o cara estuda ou estuda, não tem mais ou menos. Lembro que nas primeiras aulas, quase desisti. Teve um dia que fui em uma monitoria de Álgebra Linear à noite no campus na sala do primeiro período. Fui lá para tentar entender algo na monitoria já que eu não estava entendendo nada. A monitoria piorou, passei a ficar mais confuso e desesperado. Na volta eu quase chorei de desespero naquela rua de terra no BPS. Depois peguei o jeito, fiz amigos, estudávamos juntos, era aula de manhã, laboratório a tarde e estudar à noite naquelas noites geladas Itajubenses. Curtíamos muito também, naquela época ficávamos até tarde na praça, e andávamos na rua sem medo a qualquer hora. Cultural, DA, Albatroz toda semana.

Os anos iam passando, e a cueca ainda na árvore criando musgo. Quando sentávamos para tomar cerveja no Pingo de Outro depois da provas, eu falava para os amigos, que eu iria tirar a cueca da árvore depois da última prova e aquele desafio ficou. E a cueca não caiu, ficou lá…

Na quinta-feira antes da formatura, saiu o resultado da ultima prova, todos passamos. Tinha chovido, e alguém gritou, chegou a hora de pegar a cueca. Me deram uma vassoura, subí na árvore, juntou gente embaixo, peguei a cueca e fiz discurso. Desci e ainda vestí a cueca por cima da calça jeans que eu usava no dia. Tem foto…

Naquele mesmo dia, estávamos muito felizes, todos os colegas. Tínhamos que pegar a beca alugada em um hotel. Fomos lá no começo da noite, pegamos a beca, vestimos e fomos para o bar Cultural de beca. Tem foto.
A formatura foi muita alegria…A colação de grau foi em 18.12.1993 e tocou We are the Champions!!!

Aquela cueca, eu guardei. Ficou dentro da minha caixa de macetes da EFEI (cadernos, apostilas, livros, camisetas da EFEI, etc) e está tudo gardado comigo até hoje, inclusive a cueca.

Está fazendo 30 anos que a caixa de macetes e a cueca muda comigo para onde eu vou : Mogi das Cruzes, Campinas, São Paulo, Rio, Teerã, Johanesburgo, Emirados Árabes…

Ah, mais você e louco de guarda a cueca… Essa cueca, e os macetes eu nunca usei. Mas eu guardo comigo, para não esquecer de onde eu vim, das minhas raízes fortes Itajubenses e Federal !

Aqui vai um grande abraço para cada familiar, cada amigo, cada professor, cada funcionário. Não poderia deixar de mencionar o Theodomiro que fundou a Escola, e os três primeiros professores, Dr. Armand Bertholet e os Drs. Arthur Tolbecq e Victor Van-Helleputte que mudaram da Europa para Itajubá, onde tudo começou, naquela mesmo prédio onde o resultado do vestibular era publicado.

Neylton Nascimento Santos Filho – 6544 – EFEI Agosto 1988 / Dezembro 1993 – Dubai 14.10.2023